A
Prefeitura de Ilhéus, por meio da Secretaria Especial de Cultura (Secult), tem
promovido diversas ações em comemoração ao Novembro Negro. Dando continuidade
às atividades, entre os dias 11 e 13, a Secult visitou o único quilombo
existente na cidade, certificado e reconhecido pela Fundação Cultural Palmares
do Governo Federal, o Quilombo Morro do Miriqui, no Banco da Vitória. A agenda
de visitas e as ações realizadas visam reforçar a luta contra o racismo, o
preconceito e a discriminação racial.
As
festividades que ocorrem durante todo o mês em alusão ao Dia da Consciência
Negra, celebrado no próximo dia 20, faz referência à morte de Zumbi dos
Palmares, principal líder do Quilombo dos Palmares, território quilombola que
existiu no Nordeste no final do século XVII e que marcou a luta dos negros e
das negras escravizados no Brasil.
Conforme
Rosângela Santos, uma das lideranças do Morro do Miriqui, ser quilombola é ter
vida constante em prol da comunidade.
“Significa
partilhar laços de pertencimento, experiências de vida, manter a tradição
cultural de valorização da ancestralidade e de uma identidade negra comum.
Apesar do quilombo não ser mais um lugar para se esconder, como já foi um dia,
ainda é um local onde seu povo luta pela preservação de suas terras, território
e tradições culturais”, explica.
De
acordo com dados do Governo Federal, os quilombos ocupam pelo menos 30% dos
municípios brasileiros. Os modos de vida e manejo da natureza e da
biodiversidade nos territórios quilombolas são baseados em práticas ancestrais
de preservação e cuidado do território.
Essas
práticas são essenciais para a sobrevivência e reprodução cultural, ancestral,
religiosa, social e econômica de cada quilombo. A comunidade Morro do Miriqui
mostrou ser possível produzir de maneira sustentável, através da produção
artesanal de polpas de frutas, cultivo de mudas, hortas e flores, sem que
ocorra qualquer agressão ao meio ambiente.
Nos
últimos anos, cerca de duzentas famílias de remanescentes de quilombos lutam
contra a perda de seus territórios para invasores, entre outros fatores
externos que dificultam a existência do quilombo, como a instalação de
indústrias e empreendimentos próximos aos seus territórios, que acabam
contaminando solo, desmatando áreas de preservação, ocasionando destruição
ambiental que compromete os modos de vida e sobrevivência das comunidades.
Os
ataques contra os quilombos e a violação de seus direitos representam ações
dirigidas a apagar a história de uma população que luta pela afirmação da sua
identidade sociocultural. Trata-se de ações que confrontam modos de vida e
subsistência que estão fundados na sustentabilidade econômica e na preservação
do meio ambiente por meio de práticas de cuidado tradicional do território.
Dentre
as pautas do movimento está a busca por delimitação e demarcação do território,
o fim do racismo ambiental, titulação de terras e combate a insegurança
alimentar, para que possam continuar preservando a biodiversidade, de forma a
garantir o bem viver das gerações futuras.
Luta
e resistência - A comunidade Quilombola Morro do Miriqui
nasceu entre 1789 e 1791 (século XVIII), fruto da fuga dos negros escravizados
nascidos no Brasil com os africanos escravizados chegados em Ilhéus por via
marítima, responsáveis por promover a rebelião do Engenho de Santana. A
rebelião foi considerada a primeira greve de trabalho da história do Brasil.
Esta
comunidade quilombola tem mais de duzentos e trinta anos de existência, luta e
resistência, principalmente pela oralidade das matriarcas que em suas mentes
preservaram a memória histórica deste quilombo.
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